Presidente do Crea-AM, Alzira Miranda, acompanhou o presidente do Confea, Vinicius Marchese
Apesar de conhecer mais de 40, dos 62 municípios do Amazonas, a presidente do Crea-AM, Alzira Miranda, ainda não tinha ido a Ipixuna até a gravação do primeiro episódio d’”O Brasil que o Brasil não conhece”. “Fiquei impressionada. Já conheci muitos lugares (municípios e outros espaços territoriais), mas nenhum com a mesma dinâmica de Ipixuna. A cidade despeja resíduos, incluindo orgânicos, no mesmo ambiente de onde retiraram seus sustentos”, elucidou.
Com o título de “cidade com menos banheiros do Brasil”, Ipixuna tem 37 banheiros a cada 100 domicílios, o menor índice do país. O critério de escolha de Ipixuna e dos outros quatro municípios que farão parte desta temporada d’”O Brasil que o Brasil não conhece” foi eles estarem entre os piores no ranking do Índice de Progresso Social (IPS). O primeiro episódio mostra o problema das enchentes em Ipixuna e o impacto nas palafitas, cujos canos desembocam em córregos – entre outras dificuldades do município.
“Não fazia a mínima ideia do que ia encontrar e, de repente, estávamos diante de um lugar que convive com o desenvolvimento, mas ignora, por várias razões, a boa engenharia”, continuou Alzira, que é engenheira de pesca e de segurança do trabalho. De acordo com a presidente, Ipixuna mostra com clareza como engenharia e saúde andam juntas. “No contexto amazônico, especialmente em municípios remotos como o de Ipixuna, o saneamento básico não é apenas uma obra de infraestrutura: é, antes de tudo, uma ação direta de proteção à saúde pública”.
“Em um território onde os rios são fonte de vida, alimento e água para consumo humano, a ausência de sistemas adequados de abastecimento e tratamento transforma esses mesmos rios em vias de transmissão de doenças. Cada solução de engenharia implantada em saneamento representa menos risco, menos adoecimento e mais qualidade de vida e possibilidade de boa educação para a população local”.
Infelizmente, a engenheira avalia que as soluções encontradas em Ipixuna são insuficientes para esperançar um futuro de boas possibilidades para a região. “Apesar de algumas iniciativas pontuais com tecnologias de baixo custo para melhorar a qualidade da água destinada ao consumo humano, essas ações ainda não são suficientes para garantir segurança hídrica plena à população”.

Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), visitou Ipixuna, no Amazonas
Além da segurança hídrica e do saneamento, tem a questão do abastecimento. “É muito difícil entregar material em Ipixuna. No inverno, se for de Manaus pela balsa, dura em torno de 30 dias. No verão, o nível dos rios baixa muito e não tem como escoar produção de nada”, aponta o engenheiro André Fernandes, que já trabalhou cinco anos com saúde indígena e hoje é inspetor do Crea-AC. Ele também indica o lixo a céu aberto como um fator que chamou a atenção na primeira vez que esteve na aldeia, em 2017.
Ele explica que investimento em saneamento básico e número de pessoas doentes são inversamente proporcionais. “Quanto mais você investe em saneamento básico e engenharia nessas localidades, menos você tem aquela pessoa ali que adoece e acaba indo para um posto de saúde e tendo que tomar um tempo do trabalho ou faltando na escola. Os custos em saúde diminuem também”. A evasão das escolas acarreta em outros problemas sociais, completou André.
Os próximos episódios serão sempre lançados às segundas-feiras e visitarão municípios como Japorã (MS), Santa Rosa do Purus (AC) e Cruz do Espírito Santo (PB).
Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea



