Conhecida pelo pioneirismo na implementação de cotas raciais, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizou nesta terça-feira (22) um debate sobre ações afirmativas no campo da educação. Pesquisadores de diversas áreas compartilharam reflexões e iniciativas voltadas ao combate às discriminações enfrentadas por grupos étnico-raciais, idosos e refugiados.
Desigualdade racial na ciência
O professor Luiz Augusto Campos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj e integrante do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), apresentou dados que destacam a persistente desigualdade racial na ciência e o papel das cotas raciais na redução desse problema.
Segundo a pesquisa de Campos, entre 2002 e 2021, a participação de pretos, pardos e indígenas no ensino superior público aumentou de 31% para 52%, enquanto a de brancos e amarelos caiu de 69% para 47%. A Lei de Cotas, sancionada em 2012, teve papel fundamental nesse avanço.
“As cotas refundam o ensino superior público no Brasil, fazendo com que ele cumpra suas prerrogativas constitucionais”, afirmou Campos. “Esses dados mostram que as cotas não são apenas uma política de favorecimento para grupos específicos, mas uma ferramenta para mitigar as desigualdades que o ensino superior público perpetuava antes de sua implementação. Elas justificam a própria existência do ensino superior público.”
Inclusão dos idosos
A professora Maria Teresa Tedesco, do Instituto de Letras da Uerj, detalhou o Programa Varia-Idade, uma pesquisa iniciada em 2015 que reúne relatos de idosos de diferentes bairros do Rio de Janeiro, visando contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao envelhecimento populacional. O estudo analisa o ordenamento urbano e a ocupação da cidade, com o objetivo de garantir melhores condições de vida para a população idosa.
“Com o aumento da expectativa de vida, é essencial criar políticas públicas que assegurem o atendimento adequado aos idosos, incluindo cuidados com saúde, educação e bem-estar social”, destacou Tedesco. “Sabemos que, muitas vezes, essas pessoas são marginalizadas, e a inclusão delas na sociedade precisa ser uma prioridade.”
Apoio aos refugiados
A professora Érica Sarmiento, do Departamento de História e da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Uerj, apresentou ações voltadas para a inserção de refugiados no Brasil, ressaltando a importância de uma lei estadual que garantiu a entrada de refugiados, apátridas e imigrantes com visto humanitário em universidades públicas. A Uerj realizou seu primeiro vestibular específico para esse público em 2023.
Sarmiento enfatizou os benefícios da troca de saberes entre diferentes culturas para toda a sociedade acadêmica. “A responsabilidade com o outro envolve acolhimento”, afirmou. “A universidade deve ser um espaço de recepção, rompendo com preconceitos sobre migração e defendendo os direitos humanos, não apenas dentro de seus muros, mas também no contexto mais amplo. O acolhimento deve ser mútuo, promovendo a troca de saberes e o aprendizado entre todos.”
O evento destacou o compromisso da Uerj em promover a igualdade e a inclusão social, fortalecendo o papel das ações afirmativas na construção de uma sociedade mais justa e plural.
As informações e opiniões são de responsabilidade da Agência Brasil – EBC.